Selic cai e PIB sobe, mas níveis ainda precisam de ajustes
Segundo Anderson Pellegrino, num país cujo PIB começa a se recuperar, taxa básica de juros deve continuar caindo para oferecer melhores condições de retomada
“A nova taxa de juros da economia é de 10,25% ao ano. Baixou um ponto percentual, mas mesmo assim, o que se espera é uma queda mais incisiva”,afirma o professor de Economia da IBE-FGV, Anderson Pellegrino.
“Ainda temos a segunda taxa de juros mais elevada do planeta, perdendo apenas para Rússia, cujo patamar real está muito próximo ao nosso. Por isso, na prática, ainda não dá para comemorar”, afirma.
Após a crise política gerada pela delação de executivos da J&F, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu reduzir a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, em um ponto percentual.
De 11,25%, a taxa foi para 10,25% ao ano. Esse é o sexto corte seguido na taxa que atingiu o menor nível em três anos e meio, quando estava em 10%, patamar que os analistas estavam esperando antes das novas delações.
Já o Produto Interno Bruto (PIB) teve aumento de 1% no primeiro trimestre deste ano, em comparação ao quarto trimestre do ano passado.
Esta foi a primeira alta, após dois anos consecutivos de queda. Os dados relativos foram divulgados nesta quinta-feira, (1º), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo Pellegrino, em um país cujo PIB encolheu muito e agora começa a dar sinais de recuperação, é preciso baixar ainda mais a taxa.
“Juros altos desestimulam o consumo e o investimento produtivo. Precisamos que o PIB continue crescendo e que a economia seja aquecida. Por isso, contamos com a queda expressiva da taxa de juros”.
O professor destaca a crise política como fator agravante para o contexto geral, porque a tendência é que haja “uma certa fuga de dólares” do país ou uma redução na entrada de novos investimentos estrangeiros.
“Isso é péssimo para a economia, pois também acaba obrigando o Banco Central a ser mais comedido na baixa da taxa de juros, já que ela serve como atrativo para o capital externo”, adianta.
Além disso, dólares saindo do país gera desvalorização do câmbio, o que é ruim para inflação, afeta o desempenho da balança comercial e provoca uma série de efeitos colaterais ruins para o processo de retomada econômica.
Na tentativa de recuperação da economia brasileira, uma das ferramentas que tem auxiliado é justamente a queda da taxa Selic, o que torna o investimento produtivo mais viável e que estimula o consumo já que força a queda das taxas de juros no sistema bancário.
Ainda de acordo com Anderson Pellegrino, a crise política impacta a economia à medida de que entendimento de que o governo perde força e eventualmente até está sob ameaça influência nas suas ações.
“O mercado financeiro entende que enfraquecido, o governo não pode levar adiante, por exemplo, projetos como as reformas, essenciais para equacionar a dívida pública estratosférica. Por isso, o país continua em déficit. Perde em credibilidade e ainda precisa captar mais dinheiro. Além disso, a Selic serve de base para a precificação dos títulos do governo que ajudam nessa captação de fundos que ele precisa. Logo, a taxa não pode ficar muito baixa para não desvalorizar os títulos”, explica.