Gerenciando a logística do boom do e-commerce
O fluxo de dinheiro para o setor de logística de varejo do Reino Unido atingiu um recorde de £ 4,7 bilhões durante 2020, com os investidores transferindo dinheiro de escritórios e shopping centers para o e-commerce. O consultor imobiliário Knight Frank prevê que para cada £ 1 bilhão adicionais de vendas no varejo online no Reino Unido, outros 126.000 m² de espaço de depósito serão necessários.
Os consumidores dos EUA gastaram cerca de US$ 245 bilhões online durante 2020, representando mais de um quinto do gasto total de varejo do país. Esse aumento, acima dos US$ 185 bilhões em 2019, manteve os desenvolvedores de depósitos ocupados – quase 29 milhões de metros quadrados de espaço de armazenamento estavam em construção apenas no terceiro trimestre.
Como o e-commerce cresceu rapidamente enquanto as lojas fechavam durante a pandemia de COVID-19, os depósitos e canais de distribuição que são a espinha dorsal do comércio online tentaram acompanhar o ritmo.
“O setor de armazenamento tem se fortalecido no Reino Unido, em parte alimentado pelo coronavírus, com lockdowns forçando as pessoas a migrarem para o varejo online”, disse Brendan Sharkey, chefe da área de construção e imóveis da MHA Macintyre Hudson no Reino Unido.
“O Brexit também tem sido um fator, levando os varejistas encher os armazéns no Reino Unido como uma forma de proteção contra possíveis problemas de importação de países da UE continental. O que era um serviço incipiente agora é popular, com muitos varejistas investindo cada vez mais na tecnologia que alimenta o varejo online”, explicou.
Garantir o espaço do armazém e gerenciar a logística de compras e entregas online tem sido um desafio suficiente em países onde o e-commerce já existia, e muito pior em lugares onde o setor decolou quase da noite para o dia.
Na Rússia, há pelo menos 17 novos projetos de armazém cobrindo mais de 300.000 metros quadrados, enquanto a Amazon adicionou novos centros de logística no Brasil, adicionando 75.000 metros quadrados de espaço de distribuição no maior projeto desde que começou a operar no Brasil em 2012.
Obter a logística certa no varejo online é importante porque, como Rajeev Shaunak da MHA Macintyre Hudson apontou, até um terço de seus custos pode estar relacionado com a distribuição. Pegue o Ocado, a plataforma de compras online iniciada no Reino Unido há muitos anos; não acho que jamais tenha lucrado com suas vendas online, quase certamente por causa do custo de distribuição”.
“A Amazon entrou nisso e agora está fazendo entregas de alimentos, porque eles já têm essa infraestrutura e logística configuradas”, completou ele.
Elena Dmitrieva, sócia de finanças corporativas da Baker Tilly Rússia, diz que quase todos no mercado de e-commerce foram influenciados por problemas e dificuldades logísticas devido à velocidade das mudanças que surgiram no mercado quando a pandemia se espalhou na primavera.
“Ninguém estava preparado para um crescimento tão extremo da demanda por logística, por transporte, por serviços de entrega”, afirmou ela.
“Da perspectiva de nossos clientes, como temos algumas empresas de logística e empresas que possuem imóveis comerciais em Moscou e ao redor de grandes cidades, no início essas empresas tiveram dificuldades. Era uma demanda enorme por caminhões, mão-de-obra logística, correios expressos, entrega de mercadorias e reestruturação das cadeias logísticas porque a maioria das cadeias logísticas era baseada em lojas físicas”.
Para Elena, esse antigo sistema de logística precisava ser reestruturado muito rapidamente para atender a esse crescimento do e-commerce. “Agora, existem 17 novos projetos para armazéns de grandes incorporadores em torno de Moscou, de 5.000 metros quadrados a 20 ou 30.000 metros quadrados. E não são simplesmente armazéns, mas centros logísticos”.
Tendo emergido dessa mudança repentina, Dmitrieva também destacou que há uma falta de qualificação na Rússia no setor de logística.
“Grandes varejistas de alimentos nacionais já tinham seus próprios centros logísticos, ou agora estão comprando armazéns e construindo centros logísitcos, contratando pessoal para a parte logística do trabalho. Um de nossos clientes fez uma busca de RH pelas principais áreas que estão em alta no mercado de trabalho agora, entre as 10 primeiras está logística. A combinação de duas coisas, expertise em TI e expertise em logística, são as principais habilidades das pessoas necessárias para muitos varejistas agora”, concluiu.
Manuel Aguilar, sócio-gerente da Baker Tilly México, analisou que um fator chave para o sucesso dos varejistas no México, em um momento de rápido crescimento do e-commerce, foi se juntar a um parceiro logístico.
Manuel Aguilar, sócio-gerente da Baker Tilly México, diz que um fator chave para o sucesso dos varejistas no México, em um momento de rápido crescimento do comércio eletrônico, foi se juntar a um parceiro de logística.
“Será difícil para as médias e pequenas empresas desenvolverem as capacidades logísticas neste momento. Mas a parceria tem sido a maneira certa de proceder em um mercado emergente, mesmo com uma pandemia que afetou a hotelaria, restaurantes e, com certeza, o varejo, existem novos canais de distribuição”.
Da mesma forma, no Brasil, Leonardo Maia, sócio da Baker Tilly Brasil, disse que há um nível de atividade de M&A, especialmente na salvaguarda logística de ativos, bem como no comportamento do cliente, uma vez que as empresas buscam explorar a expertise existente para impulsionar seu crescimento.
“Tudo o que está relacionado com inteligência artificial, comportamento do cliente; portanto, pequenas empresas de tecnologia relacionadas a análises e coisas do tipo foram o foco da atividade de M&A”.
Para os Estados Unidos, Reino Unido e uma parte significativa do mundo ocidental, a Amazon é a plataforma de marketplace dominante, com o eBay em um distante segundo lugar. Mas o mercado está mais aberto em outras partes do mundo.
Em julho de 2020, o Mercado Livre México teve um tráfego mensal estimado de 106,5 milhões de visitas, tornando-se a plataforma de e-commerce mais popular entre os consumidores daquele país, com a Amazon em segundo lugar. O Mercado Livre também foi o player dominante no Brasil, à frente da Americanas e da OLX.
As plataformas de marketplaces de startups estão desfrutando de rápido crescimento no Sudeste Asiático ou na América Latina, duas regiões que impulsionarão o crescimento do e-commerce nos próximos anos.

O Shopee, com sua plataforma de entregas gratuitas e comissões baixas, tornou-se a plataforma de e-commerce mais popular do Vietnã, aumentando suas visitas ao site para 62 milhões por mês durante o terceiro trimestre de 2020, um aumento de mais de 80 por cento.
A plataforma, de propriedade da SEA Ltd, sediada em Cingapura, tem como alvo a América Latina como uma área-chave de crescimento, com suas vendas de e-commerce crescendo 36,7% durante 2020 para quase US$ 85 bilhões, tornando-se a região de crescimento mais rápido para e-commerce no mundo.
No entanto, apesar de toda a explosão nos mercados online, Maxim Tambiev, um consultor de pesquisa da Baker Tilly Rússia, diz que muitos varejistas estão assumindo a responsabilidade por suas próprias operações de armazenamento e entrega.
“A parte interessante é que 65% das remessas foram feitas pelas próprias operações logística do varejista, mas as entregas feitas pelos Correios Russos, que é o maior sistema postal da Rússia, caíram substancialmente no ano passado”, disse ele.
“É claro que a operação logística independente cresceu muito em número de envios e em número de pontos que podem ser usados para entrega. Por exemplo, as redes Automated Parcel Terminals (Parcel Lockers) cresceram em toda a Rússia. Eles não eram muito populares antes, mas durante a pandemia tornou-se um dos meios de entrega mais difundidos”.
Na visão de Rajeev Shaunak, enquanto grandes mercados como Amazon e Alibaba construíram uma distribuição massiva, os varejistas estão descobrindo que este não é o único caminho a seguir.
“Se você está comprando coisas como tênis esportivos e outras coisas por uma loja como a JD Sports, muitas vezes eles são enviados diretamente da Adidas ou da Nike; eles não estão necessariamente em seus depósitos”, avaliou.
“Essa pressão sobre os armazéns continua a crescer puramente porque a expectativa dos consumidores cresceu enormemente; cada vez que as pessoas fazem compras online, elas esperam ver produtos novos e de boa qualidade. Os fabricantes estão tentando atender a isso, mas você não pode ter uma prateleira ilimitada no armazém, então seu sistema de distribuição precisa ser capaz de não perder vendas por não ter o produto, mas ser capaz de facilmente entrar em contato com o fabricante”.
Segundo ele, os agentes de viagens podem ir direto às companhias aéreas e aos próprios sistemas do hotel e obter a venda diretamente por ter um sistema logístico, acho que eles o chamam de GDS, Sistema de Distribuição Global.
“Ter um meio de realmente entrar em contato com seus principais fabricantes e ver que eles têm o estoque para poder cumprir a venda, ao invés do fato de que você está limitado pela capacidade de seu armazém, será muito importante”.
O desafio para os varejistas, de acordo com Aguilar, é melhorar os canais de logística, seja desenvolvendo essas capacidades internamente ou encontrando o parceiro certo para crescer. Mas os parceiros são escassos devido à alta demanda e o desenvolvimento interno leva tempo.
“A utópica conveniência de pedir algo no smartphone e obtê-lo no dia seguinte está testando muitas coisas, não apenas o varejo, mas também a obtenção de recursos para as cadeias de suprimentos de varejo e assim por diante”, explicou.
Leonardo Maia completou que os varejistas online também fariam bem em lembrar as lições gerais tiradas dos últimos 12 meses, onde a fragilidade das cadeias de abastecimento foi exposta.
“Depois dessas dificuldades que todos os países passaram, considerando as vacinas e a redução de impostos aos fornecedores de suprimentos médicos, tudo o que está relacionado à pandemia, todas as principais cadeias de suprimentos estão sendo revisadas para garantir que tenhamos um plano B se nosso principal fornecedor não nos apoiar, como vimos no primeiro semestre com a China e a pandemia”, finalizou.