2º Folha Business: ‘dólar Mais Alto Veio Para Ficar’

2º Folha Business: ‘dólar mais alto veio para ficar’

O hotel Sheraton Vitória, na Praia do Canto, foi palco da segunda edição do Folha Business, evento realizado pela Rede Vitória, em parceria com a APEX Partners, que contou com grandes nomes nas áreas de investimento, empreendedorismo e política do Espírito Santo, e com a presença do Ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho.

Ao longo de quatro horas, os convidados discutiram o atual momento econômico do país, e apresentaram perspectivas para o próximo ano. O evento ainda contou com muita integração e troca de experiências, além do profundo debate sobre as agendas mais relevantes economicamente para o Estado.

O sócio líder da Baker Tilly em Vitória, Wladimir Zanotti, representou a empresa no evento, como um dos patrocinadores. “Pela segunda vez participamos do Folha Business como patrocinadores porque entendemos a importância do alinhamento entre as expectativas econômicas e os líderes de empresas locais, bem como acreditamos no trabalho dos nossos parceiros da TV Vitória e Folha Vitória”, disse.

Zanotti é um dos entrevistados do programa de cobertura do evento que será veiculado no Programa Especial Folha Business, no próximo domingo(20), na TV Vitória/ Record TV, às 10 horas.

 

Além do Ministro do Desenvolvimento, a 2ª edição do Folha Business contou com a presença do Deputado Federal, Felipe Rigoni; de Luiz Parreiras, da Verde Asset Managemente; de Márcio Felix, CEO da EnP; e de Renato Mazzola, do BTG Pactual.

2º Encontro Folha Business: ‘Dólar mais alto veio para ficar’, diz Luiz Parreiras, sócio da maior gestora de fundos do país

Luiz Parreiras, sócio e gestor da estratégia de fundos multimercados da Verde Asset Management — a maior gestora de fundos do país — afirmou que a desvalorização do Real perante o Dólar que ocorre desde 2018 é a nova realidade do câmbio. A declaração ocorreu no segundo encontro Folha Business, que aconteceu nesta segunda-feira (14) no Sheraton Vitória.

Segundo o gestor da asset, que é conhecida pela alta rentabilidade entregue aos seus cotistas, esta situação tem relação com a situação fiscal em que o país se encontra.

“O Brasil viveu por 30 anos com um modelo econômico que tinha duas variáveis, uma que funcionava como aceleradora fiscal e outra como um freio monetário: de um lado, o gasto do governo que crescia mais do que o PIB, em média 7% a mais por ano, do outro, uma alta taxa de juros, que criava uma série de distorções no valor da moeda”, afirmou. “Ou seja, um motor empurrava o país para frente, outro para trás”.

Projetar o câmbio é uma das tarefas mais difíceis do mercado porque há muitos fatores de influência, havendo diferentes teses aplicáveis. Inclusive, não há consenso nem mesmo entre a Verde Asset. O CEO e CIO da organização, Luis Stuhlberger, diverge de Luiz Parreiras. Mas a tese de Parreiras parte da premissa de que o modelo de desenvolvimento teve seu fim no Brasil após 2014, quando o gasto do governo passou a não ter mais como crescer. Entender esse processo ajuda a compreender as perspectivas para o câmbio se manter valorizado.

Como o risco fiscal pressiona pelo aumento do dólar e dos juros

Aquele foi o ano em que os superávits primários deram lugar a déficits fiscais. No economês, superávits são economias que o governo faz gastando menos do que arrecada em impostos. Esse excedente era utilizado para abater as despesas com os juros da dívida pública, evitando que ela crescesse demais e houvesse descontrole fiscal.

Diante dos déficits fiscais que passaram a ocorrer entre 2014 e 2016, a dívida pública aumentou de cerca de 50% do PIB — similar entre os pares emergentes — para 67%. O resultado da perda de confiança de investidores foi a revisão do grau de investimento do Brasil pelas agências de classificação de risco, isto é, a perda do selo de bom pagador. Na prática, isso pressionou tanto a desvalorização do Real quanto fez aumentar a taxa de juros, que atingiu 14,25%. Isto é, o risco fiscal aumentou o dólar e os juros.

Como resposta, foram aprovadas reformas estruturais para a estabilização da dívida pública, como o Teto de Gastos, o fim da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) e a Reforma da Previdência. Isso permitiu a queda da Selic para mínimas históricas, mesmo antes da pandemia e de seus efeitos deflacionários.

“As reformas aprovadas funcionaram como um freio fiscal, permitindo uma espécie de acelerador monetário: sobrou espaço para a política monetária trabalhar com uma taxa de juros menor”, explicou Parreiras.

“Talvez não seja sustentável a Selic atual de 2%, mas pensar que ela ficará entre 3% e 4% é natural, desde que o Brasil não faça bobagem no lado fiscal, isto é, que o déficit fiscal aumente”, alertou.

Porém, Parreiras explica que esse novo modelo de desenvolvimento fará o Real se manter desvalorizado. “Embora essa taxa de juros ainda seja mais alta que o resto do mundo, não é tão maior do que a verificada historicamente no país. A realidade de 2018 (desvalorização do Real), veio para ficar. Parreiras alertou que o problema de uma moeda estar muito desvalorizada é que isso pode gerar um ciclo vicioso, em que há escalada inflacionária, que por sua vez pode levar a um aumento de juros”.

Gastos do Brasil na pandemia e risco fiscal

Relatório de outubro da Verde Asset comparou os gastos do Estado brasileiro para combater a pandemia com outros países emergentes e desenvolvidos. “O Brasil foi o país emergente que mais lançou mão de despesas na pandemia. Gastamos como se fôssemos um país rico, mas não somos. Isso deixou um legado de endividamento muito alto”, disse Parreiras. A projeção da dívida pública do país ao final de 2020 é de 101,4%, segundo projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O gestor contra-argumentou a afirmação do Ministro de Desenvolvimento Regional Rogério Marinho, que mais cedo no evento afirmou que não haveria problema a dívida ultrapassar esse patamar. “Não concordo com essa afirmação do ministro. Qualquer empresário sabe que isso não é verdade, que tomar conta de seu negócio com uma dívida maior não é a mesma coisa de uma dívida menor proporcional ao negócio. Há países ricos que possuem esta realidade, mas há credibilidade e confiança nessas regiões. Nós não somos um país rico”.

“O mercado está aceitando mais dívida do que no passado? Sim. Mas qualquer dívida? Definitivamente não. O legado de uma dívida alta é perigoso, especialmente se não continuarmos a agenda de reformas e não fizermos o que precisa ser feito. Não acho que a trajetória da dívida no Brasil esteja em um patamar irreversível, mas não dá para tratar como se estivesse tudo bem”, concluiu.

Fonte: Folha de Vitória

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